sábado, 27 de agosto de 2011

O erro

Lamento se você perdeu seu mais sério hábito, o de fingir que tudo está bem. Agora não há como esconder o que vem errando há tanto tempo, sorrateiramente. O sol nasceu e você simplesmente voou ao longe... Vi sua silhueta sombria contra a luz, você tinha asas mas não quis me levar junto. Você criou seus próprios precipícios dos quais pularia. Então você pulou... Seus demônios sobressaltaram em sua face triste e arrependida. Ofereci ajuda, mas seu ego não permitiu que você segurasse minha mão, estava cega.

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Essa vida sagrada que você leva não esconde sua vergonha. Sou mais santo que você. Se o que você quer é me machucar, magoar, fazer sofrer, sinto muito mas chegou tarde. Um dia procurará por seus velhos hábitos e encontrará apenas a sombra do que costumava ser, antes de eu nascer. Tristeza medonha... Incompreensível... Te deixa atado aos seus próprios medos... Um deles... O mais grave... Me perder.

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Por sua alma ter sido perdida, você perambula como um mendigo. Você chora durante toda a noite, sussurrando meu nome ao vento, esperando que eu ouça e vá à sua busca. Você não faz idéia do quanto está errado. Apenas respire, deixe o ar estragar seus pulmões, veja a vida passando como um relâmpago e deixando você para trás, como se sua pele fosse cera e seus ossos puro pó. Encontrará a paz, vinda de si.

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Algo em mim fez você despertar, buscar seu chão, enfrentar seus medos e superá-los. Não me agradeça, apenas viva e deixe viver, sendo alguém especial, não apenas um grão de areia. Mas a supremacia ainda toca seu íntimo. Seu coração já não tem salvação, se tornou pedra assim como seus sentimentos. Me diga se valeu à pena ter cometido aquele erro, se os seus mais belos sonhos fazem parte da sua realidade ou se eles voaram para longe assim como eu.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Chamas

Algo em mim tocou o fogo. O fogo tocou algo em mim. De onde vem esse calor insuportável? De onde vem esse fogo intenso que sinto desfazer minha epiderme e derreter meus ossos? De onde vem essa chama que arde forte, tão bela aparência, cor enegrecida, trazendo uma ideia sobre o espaço sideral? Diga-me, de onde vem esse pilar descomunal de puro pavor? Não quero perder novamente tudo que já perdi, dói tanto... Seria, esse fogo, algo bom?

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Tire de perto de mim essa chama que machuca. Essa chama que não é como a chama da paixão, mas sim como a chama do olhar demoníaco, o fogo infernal. Me sentiria tão bem se pudesse sentir, uma única vez mais, o NOSSO fogo, aquele que necessitávamos para viver. Me sinto triste, angustiado, ao pensar que aquele fogo já não aquece mais nada.

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Uma emoção pisoteada. Uma alegria condensada. Uma tristeza reprimida. E eu aqui, eu e meus três "eus", debatendo sobre o que seria o melhor a se fazer. Se uma fuga, um escape de emergência, um sinal seria um brilho no olhar. Ou se um inquieto pesadelo deveria retornar à sua origem. Onde está aquela luz no fim do túnel quando mais se precisa dela? Maldita esperança que me tortura fazendo eu acreditar que o melhor pra mim é esquecer de tudo. Eu quero voltar no tempo, quero refazer tudo que desfiz, quero evoluir minha desexperiência ao limite, ao topo, e de lá jogá-la ao vento. Quero fazer isso e aguardar o que virá de retorno. Quero que meus olhos abram cada vez mais e que meus pulmões inalem o mais puro sabor de ar limpo. Não quero mais esse sufocamento.

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Sofro à deriva... Eu faria de tudo para que esse fogo fosse o sinal do nosso retorno. Essa chama não se deixa calar, ela me diz que devo seguir em frente e olhar para trás apenas nas horas certas. Espero conseguir. Tudo que não quero é esquecer sua luz.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Psicopata

Eu cumpri minha pena, e quero sair! Fé abusiva! Isso não vale, esta alma não é tão vibrante. O acumular, o adoecer. De volta á sua subversão. Doença pseudo-santificada antes do amanhecer. Vá para os seus desertos, vá cavar sua cova! Depois encha a boca com todo esse dinheiro que guardará. Regredindo, diminuindo de novo. Eu acabei! E isso começou, eu não sou o único.

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E o reino matará todos nós. Nos jogará contra a parede. Mas ninguém mais pode enxergar a preservação do mártir em mim.

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Há buracos pela estrada que seguimos. Mas nós somos o escarro do diabo, a morte secreta se irritou. Não há nada de novo nisso, mas deveríamos acabar com tudo? O ódio era tudo que tínhamos. Quem precisa de mais desordem? Podemos começar de novo. Agora olhe nos meus olhos e me diga que estou errado! Agora só existe o vazio, queime o próprio risco. Acho que acabamos, eu não sou o único.

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Destino! Não posso aceitar essa mentira, tentei te avisar três vezes! Suas mentiras cortantes estão fracassando. Não dá pra parar a matança se existe algo secreto, é isso que você quer? Eu não sou o único psicopata!

Algo que te deixe feliz...

Lembranças que jamais serão apagadas, eu às protejo com toda a força que me restou. Um pedaço incendiado de mim ficou com você, a parte mais bela da minha história, as melhores horas da minha vida, os melhores dias da minha eternidade. Piedosa foi por não me odiar. Eu quis dizer o quanto te amo, assim fiz durante as luas mais belas que já presenciei. Partilhei com você minhas felicidades, meus sorrisos, minhas dores, minhas aflições, minhas angústias, cada desabafo me fazia perder o centro de tão extasiado que ficava ao ouvir sua doce voz, sentindo-a fazendo eu me reerguer do pó, renascer das cinzas.

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Você me fez acreditar que, por mais que um amor não seja eterno, vale a pena cada segundo que se vive por ele. Já não encontro mais palavras para dizer-te o quão feliz me sinto em pensar que um dia fui seu. Cada palavra, afiada ou não, que me dizia, alcançava direto meu coração, aquele que não é meu. Você me ensinou a valorizar o que amo, buscar e não descansar enquanto não tiver em mãos o que quero. Você me mostrou a luz no fim de tantos túneis, me deu força, me encorajou, me felicitou e se orgulhou de mim. Mais que tudo, por mais engraçado que pareça, você foi como uma mãe para mim.

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Eu regozijo ao relembrar cada vez que estivemos sonhando o mesmo sonho. Cada sorriso que sorrimos juntos. Cada tristeza que partilhamos. Cada segundo que tive você em meu colo. Cada beijo, aqueles que jamais esquecerei, por puro amor. Cada vez que você me buscou ao estar aflita, pois confiava na minha capacidade de fazer você se sentir bem. Obrigado por me permitir te curar tantas vezes. Tudo o que eu quero é que você saiba e jamais se esqueça do quanto te amo, promessa que jamais deixarei de cumprir. Você foi mais que uma pessoa em minha vida, você foi a melhor de todas, incontestavelmente. Você sempre será "tudo pra mim".

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Apenas mais um...

Você acreditava que eu era especial... Tantas vezes você disse que eu não era como os outros... Tantas vezes confirmou que ninguém além de mim poderia ser tão atraente, tão gentil, tão amoroso, enfim, tão nobre... Mas a verdade sempre esteve tão próxima... Eu jamais fui tudo isso que você pensava... Eu jamais fui algo além de mais um...

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Eu sempre quis ser especial... Tantas vezes me golpeei por não poder fazer a diferença em sua vida... Tantas vezes me sacrifiquei para ao menos parecer tão atraente, gentil, amoroso, enfim, tão nobre quanto você dizia que eu era... Mas a verdade estava debaixo do meu nariz... Eu jamais poderia ter sido tudo aquilo que você queria que eu fosse... Eu fui apenas mais um...

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Eu daria minhas próximas quatorze vidas para nunca ter dito aquilo pelo qual mais me arrependo... Adivinhe o que é... Jamais adivinhará... Pois o ódio que outrora sentiu por mim, continua em seu sangue, como uma parede que impede sua visão de chegar até o mais profundo dos nossos segredos, aqueles que jamais morrerão, porém permanecerão em silêncio, sem ninguém para desenterrá-los, revivê-los... Pois cada um deles é apenas mais um... Para você...

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Nada

Assim como o oceano, eu fui pacífico nas horas lamentáveis e árduo nas horas mais inconvenientes. Decidi tomar liberdade, sentir que, mesmo sem qualquer aerodinâmica, eu podia voar. Em meio a maior tormenta pela qual já deixei rastros de desespero eu me vi um ser oculto. Meus olhos eram vermelhos, minha pele era pálida e gélida, meu cabelo era uma chama intensa, minhas mãos banhadas pelo sangue de cada inocente cuja vida se esvaiu por entre seus dedos por minha causa. Um choro cálido, lágrimas esgotando-se, um dia essa ira que sinto por mim mesmo verá seu fim.

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Levanto-me novamente, olho em frente e sinto a eternidade buscando-me. O que ela quer de mim? Minha vida já não vale tanto quanto ela supõe. Cortando montanhas, movendo cascatas, girando mundos... Por aí vai meu maior valor. Cansado de esperar pela chuva, corri até o monte mais alto e de lá me arremessei, uma tentativa em vão. Antes que pudesse ver o ponto final daquele diálogo entre mim e a morte, ela própria não permitiu que eu me visse nu perante a vida. Eu quis morrer, apenas morrer, será tão difícil assim?

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Atraído por uma doença chamada amor, fui cego ao prato, nunca soube ao certo se o que estava fazendo era correto ou não, mas pouco importava pois, após tanto sofrer por estar doente, havia desistido de viver sem ao menos esperar por encarar desapontamentos. Escolhi viver perigosamente, um tanto quanto abrupto. Mas o que vale é que, de toda a experiência que adquiri, noventa por cento foi totalmente novo. Explorei lugares novos, pensamentos diferentes e até iguais aos meus, me dando a oportunidade de recriar meu mundo, Assombrósia. Eu quis, eu fiz, busquei, chorei, perdi mais do que poderia ou deveria, mas vivo e não me arrependo de nada... Nada...

terça-feira, 2 de agosto de 2011

O que nunca será

Caberia ao momento... Falar de sentimentos verbalizados, o verbo... Por que sentir-se mal perante uma luz? A luz do verbo... A luz castanha... Piedosa... Uma promessa, uma injúria... Um amor, um suicídio... Amar-te eternamente, uma promessa suicida. O não-merecimento vai além do compreendido por não valer à pena. Querer-te sem mais podê-lo, buscar-te sem mais você existir, nem mesmo dentro de mim. Seu jardim de rosas e tulipas murchou por completo, seu coração de morango parou de pulsar, tudo que pertencera à você não pertence mais, pertence a morte e a seus luxos somente. Não sofra, não vale à pena, é uma blasfêmia.

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O que me restou foi apenas uma vaga chance de viver. Como você está? (dúvida cruel) Você poderia estar aqui, ao meu lado, ao lado de quem poderia ser seu melhor amigo. Devo mudar, novamente, por você...?

Ódio!

Quer saber o que odeio em você? Eu. Eu sou o que de mais detestável em você. Sou seu lado obscuro, impuro, obsoleto, totalmente escondido. Sou o lado de fora da sua alma. Sou o lado que todos odeiam, rejeitam, oprimem e dizem para que você abra mão. Sou o lado que você mais ama, porém, na opinião de alguns, o que você deveria odiar.

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Sou aquele que faz seu peito doer, que te machuca com um simples tom de voz alterado, que te deixa de mau humor sempre que digo algo errado, que te faz sentir culpada e querer ser crucificada, assim como aqueles ladrões de corações. Mesmo que você não tenha roubado o meu, pois eu mesmo o entreguei à você, por livre e espontânea vontade. Sou aquele que se martiriza por saber que te faz tão mal. Sou dos seus males o pior.

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Sou o calado grito cortante em sua garganta, sou o veneno brando em seu sangue, sou o pilar que sustenta sua mágoa mais profunda, sou sua raiva mais intensa, sou seu ódio pela raça humana, sou seu ego em carne e osso. Sou sua emoção mais bem expressa, aquela emoção que surge juntamente ao pensamento mais sujo. Sou seu lado esquecido porém vivido, sou seu medo, seu rancor. Sou o sangue em seu olhar, ao fitar a vida e odiá-la por não permitir que estejamos perto o suficiente. Sou sua ansiedade, sua vontade estérica.

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Sou seu desejo mais oculto, sou o amor que você jamais sentiu por outro alguém, sou sua força ao lutar por nós dois. Sou seu namorado, sua alma gêmea, seu sorriso. Sou seu e assim serei, para todo o sempre.

Um sonho...

Então, lá estava eu, parado em pé, com luzes que ofuscavam quase que por completo minha visão, sentindo a alma embaçada como tal.

Num espaço gigante, me via numa plataforma de uma estação de trem qualquer, tudo deserto, silêncio malévolo, irritante sensação de ser o único ser vivo ali presente. Num súbito estrondo o trem chegava e, muito lentamente, parava. Toda a estrutura do lugar me causava um certo desconforto. Isso é grande demais - pensava eu. Foi então que, assim que o trem finalmente descansou por completo e todas as suas portas se abriram, pude vê-la caminhando com certa pressa, porém na plataforma do lado oposto, vindo em direção à porta do trem que, aberta, proporcionava-me um caminho livre para chegar ao outro lado.

Fiquei extasiado e pude ouvir sua voz (nem parecia um sonho) dizendo:

-Depressa, amor!

Estava eu perplexo e pensando no porque de ainda não ter me movido um palmo sequer. E aquela voz tornou à exclamar, seus olhos miravam fixos aos meus:

-Alan! O que está esperando?

Como que num piscar de olhos eu já havia atravessado o caminho em meio ao trem e chagado ao outro lado. Ela olhou para mim e se atirou em meus braços e isso me trouxe um adormecido ar de satisfação. Só de imaginá-la ali, tão perto quanto possível, sua pele branquinha agora era rosada, pelo tom de alegria que esboçava ao poder tocar-me. Seu abraço era vigoroso, como que dissesse "nunca mais te soltarei", aumentando minha satisfação e excitando à nós dois, e ao mesmo tempo.

Eu podia sentir seu cheiro, revelava sua identidade me fazendo ter certeza de que aquela realmente era a minha amada. Num movimento delicado e um tanto sutil, repousou sua cabeça em meu peito e sorriu de contentamento, afastou-se um pouco mas ainda mirando meus olhos. Puxei-a pela cintura e beijei-lhe os lábios, doces e carnudos, simplesmente irresistível aquela ação. Permitiu-se então empoleirar-se novamente eu meu peito.

Pousei minha mão sobre sua nuca, firmando ainda mais seu corpo junto ao meu. Ergui os olhos ao céu, o tempo fechava e só eu sabia o perigo que estava por vir, porém, em momento algum, me deixei alertá-la sobre isso, não estragaria aquele momento por nada. Ainda encarando as nuvens negras, gritei em pensamento, ordenando-me que cumprisse a promessa que fiz ao meu amor de que à protegeria de tudo, custasse o que custasse.

Abracei-a mais forte, indicando um certo medo que já não podia esconder, mas ela entendia, ela sempre entendeu. Fechei os olhos e deitei meu rosto sobre sua cabeça. Minha pequena... - pensei. Sentimos juntos um vendo alucinado que cortava as paredes, e a estação de trem já não era nossa localidade. Abri os olhos mantendo a certeza de que ela não fazia o mesmo, não queria deixá-la sentir medo, seria angustiante.

Um campo aberto, um valo imenso, era um mar verde sem sequer uma única colina visível. Era um deserto vivo e assombrosamente dimensionado. No céu, escuro como a própria treva, moviam-se as nuvens como deuses em suas carruagens cinzas. Embora nada houvesse acontecido além de um zumbido apavorante que o vento fazia ao pentear a grama alta. Em transe, ao contrário de como se estivesse normalmente, eu podia avistar raios chocando-se ao longe e batendo no chão ao nosso redor como chicotes luminosos. Tornados e furacões nos rodeavam, como planetas ao redor do sol, isso só fez aumentar minha perspectiva com relação a nossa união.

Era um combate entre uma fúria invisível e eu. Porém, minha fonte de energia e vontade estava bem ali, em meus braços, necessitando meu calor. Quando pensei nisso, saí do transe, fechei os olhos novamente ao ser irradiado por um brilho intenso, uma luz que vinha de baixo do meu queixo. Eram os olhos dela que iluminavam aquele cenário macabro. Nem mesmo pensei em sair de seu abraço vital.

Através das pálpebras pude notar a luz se esvaindo, perdendo cintilância, permitindo que eu abrisse os olhos e me deparasse com ela, à minha frente, chorando e dizendo:

-Me proteja, amor, estou com medo!

Enxuguei a única lágrima que rolou em seu lindo rosto com um beijo e a abracei firmemente, afirmando que a tormenta havia acabado.